segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Malabares



Hoje eu queria poder fotografar com os olhos. Aquela cena tão incomum me chamou a atenção enquanto eu aguardava, em pé, o motorista dar partida ao motor do coletivo. Aquele senhor, que devia ter pelo menos uns 60 anos, estava imerso em um mundo só dele, com cinco bolinhas coloridas nas mãos.

Duas azuis, uma verde, uma amarela e uma vermelha.
 Como se estivesse em um picadeiro, fazia malabarismo na plataforma entre dois corredores de ônibus. Com apenas uma das mãos, jogava as bolinhas ao ar e caminhava lentamente. Tentava insistentemente permanecer com as coloridas a rodopiar até o fim daqueles que deveriam ser uns 20 metros de concreto.

Mas não conseguia. Chegava até quase a metade da plataforma, perdia o ritmo e voltava ao começo. Murmurava como quem conversasse consigo mesmo, ou com o público, ou com um cachorro ou papagaio, quem vai saber?

Apesar de sucessivas tentativas frustradas, continuava a perseguir aquele objetivo tão insignificante para quem mal entendia o que se passava com aquele homem.

Sem que ele desviasse o olhar das bolinhas, uma mãe com dois filhos caminha junto à plataforma, em direção ao outro lado do terminal. As crianças observam, atentas e curiosas, e sorriem como uma plateia que reconhece o artista. Ele nem desvia o olhar.

Talvez seja um homem que nunca deixou de ser criança. Ou um maduro adulto que persegue seus sonhos até o fim, mesmo que com bolinhas coloridas. Não importa. Para mim aquele é um artista da vida. Sonha o que quer, sem nem ligar para o que os outros pensam. Chuta o absurdo pra lá, e persiste.

Por Míriam Bonora

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