segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

2011: ano das primeiras vezes.

Todo fim de ano é momento de balanço e, pensando no meu, conclui: com certeza, 2011 merece ser guardado no nosso potinho de bons sentimentos e lembranças...

2011, para mim, foi o ano das primeiras vezes:

A primeira vez que eu realizei grandes sonhos de menina, como o de estar frente a frente e conversar com “ídolos”, como o goleiro do meu time e do meu coração, Marcos.

A primeira vez que eu me formei em uma faculdade.

A primeira vez que cumpri uma promessa de início de ano: criei meu blog com portfólio – www.isabellareis.wordpress.com

A primeira vez que fui a um barzinho. (Juro que não imaginava que também se vendiam sucos nesses lugares... haha).

A primeira vez que tive um artigo aprovado para ser publicado em um livro!


A primeira vez que eu comi um temaki =)

A primeira vez que eu ganhei uma festa de despedida só pra mim.

A primeira vez que eu casei! (Espero que a última, também, rs...).

A primeira vez que eu me senti, de fato, diva e divina em uma só noite.

A primeira vez que mudei de casa desde os seis anos de idade.

A primeira vez que mudei de cidade!

A primeira vez que acordei com quem amo ao meu lado... (sim, é isso... ^^).

A primeira vez que fui a um lugar que sempre quis conhecer: Jericoacoara, no Ceará.

A primeira vez que passei uma camisa social.

A primeira vez que me regulamentei em uma profissão (tirei minha MTB!).

A primeira vez que fiz a lista e as compras no supermercado para a minha própria casa...

Enfim, 2011 foi um teste para o coração! Árduo, manhoso, ardido, frenético, mas delicioso. Experiências tais que jamais poderão ser apagadas. Ano de lutas, mas de muitas recompensas, depois de vários anos que limitaram-se somente às lutas...

Posso dizer que 2011 finalmente chegou. E, também, que finalmente acabou. Ufa!

Os principais acontecimentos do ano já estavam programados há algum tempo. Isso me ajudou a preparar-me psicologicamente, fisicamente, emocionalmente... Mesmo assim, 2011 foi um samba rock daqueles! Pesado, mas ótimo de dançar!

Além de ser o ano das primeiras vezes, foi também ano de grandes revelações (internas e externas) e consolidações (igualmente, externas e internas). Toques a mais para este período tão especial... Acelerado e ao mesmo tempo lento. Previsível e ao mesmo tempo surpreendente. Cuidadoso e ao mesmo tempo perigoso. Doce e ao mesmo tempo amargo. No fim, prevaleceu a delícia da valsa, o sabor do sonho – vários realizados – e é isso que importa...

Entro em 2012 de forma totalmente diferente. Não tenho ideia alguma do que me aguarda nesta nova etapa do universo. Com nada previsto, 2012 é um ponto de interrogação. Vou me jogar em seus braços na confiança de que o melhor vem. E virá, com a graça de Deus (amém).

O ano de 2011 eu guardo com carinho, guardo no Potinho, inesquecível e agora eternizado. Meus agradecimentos a você, 2011...

Aquele abraço!

Por Isabella

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Malabares



Hoje eu queria poder fotografar com os olhos. Aquela cena tão incomum me chamou a atenção enquanto eu aguardava, em pé, o motorista dar partida ao motor do coletivo. Aquele senhor, que devia ter pelo menos uns 60 anos, estava imerso em um mundo só dele, com cinco bolinhas coloridas nas mãos.

Duas azuis, uma verde, uma amarela e uma vermelha.
 Como se estivesse em um picadeiro, fazia malabarismo na plataforma entre dois corredores de ônibus. Com apenas uma das mãos, jogava as bolinhas ao ar e caminhava lentamente. Tentava insistentemente permanecer com as coloridas a rodopiar até o fim daqueles que deveriam ser uns 20 metros de concreto.

Mas não conseguia. Chegava até quase a metade da plataforma, perdia o ritmo e voltava ao começo. Murmurava como quem conversasse consigo mesmo, ou com o público, ou com um cachorro ou papagaio, quem vai saber?

Apesar de sucessivas tentativas frustradas, continuava a perseguir aquele objetivo tão insignificante para quem mal entendia o que se passava com aquele homem.

Sem que ele desviasse o olhar das bolinhas, uma mãe com dois filhos caminha junto à plataforma, em direção ao outro lado do terminal. As crianças observam, atentas e curiosas, e sorriem como uma plateia que reconhece o artista. Ele nem desvia o olhar.

Talvez seja um homem que nunca deixou de ser criança. Ou um maduro adulto que persegue seus sonhos até o fim, mesmo que com bolinhas coloridas. Não importa. Para mim aquele é um artista da vida. Sonha o que quer, sem nem ligar para o que os outros pensam. Chuta o absurdo pra lá, e persiste.

Por Míriam Bonora

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Inabalável!


Acredito que uma imagem valha mais do que mil palavras!

 


Brilho nos olhos...
Amor...
Comunhão..
Cumplicidade...
Cuidado...
Fidelidade...

Amizade solidificada no amor de Cristo.
Inabalável diante das lutas, apesar das diferenças...
E saiba que sim!
Eu sou sua amiga, para sempre amiga, muito mais do que amiga!
Sempre. Para sempre com você!
Eu estou aqui...

Te amo!



Por Roberta de Souza André

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sempre.

Ela...

Sempre está comigo.
Sempre me diverte.
Sempre me perdoa.
Sempre dá um alô.

Nos conhecemos desde os sete anos de idade, meninas.
Com o passar do tempo, fomos nos aproximando...
E conhecemos, juntas, as dores e as alegrias da vida.
Provamos do mesmo doce e do mesmo amargo.
Quase morremos e quase nos matamos, metáforas.
Mas ela, sempre lá, gigante e ao mesmo tão frágil, abriu os braços para mim quando quis voltar, tal o pai ao filho pródigo, com terno amor.

Às vezes me pergunto o que fiz para merecer.

Hoje, o sempre é tão forte que é como se tivéssemos o mesmo sangue.

Irmã mais velha que ensina as manhas da vida. Irmã mais nova que pede por atenção. Tia doidona. Mãe preocupada. Filha desprotegida. Prima da diversão.

Todas nela. Ela em todas.
Única. Excêntrica. Adorável.
Minha amiga.

Minha!

... Só Deus e eu sabemos o quanto isso significa para mim...

Sabe a sensação do sempre? Ela me dá.
E nisso, pelo tanto que já passamos, já não há nem um pouco de temor.

É um misto enorme de amor, gratidão e segurança.

Por Isabella

sábado, 15 de outubro de 2011

Chaplin de Copacabana

Noite de luar em Copacabana. À beira da praia, por entre centenas e centenas de rostos que nunca se veriam novamente, um deles se destacava no calçadão.

Era diferente dos outros, com tinta branca sob a face, olhos marcados de preto e, claro, a cartola. Um personagem interpretando um artista, que era também personagem.

Sem emitir qualquer som, distribuía poesia ao som das ondas batendo. Cativava com o olhar, que pedia atenção. Ele tirava do bolso uma rosa branca de papel, e a entregava ao cavalheiro, que gentilmente deveria oferecê-la à dama que acompanhava.

Surpresos e contemplativos, os que se deixavam encantar por aquele ser simplesmente sorriam. Era então que o Chaplin de Copacabana lhes entregava a última pequena grande lembrança: um pedacinho de papel com uma mensagem, que deveria ser lida com apreço pelo rapaz.


“É certo que irás encontrar situações 
 tempestuosas novamente, mas haverá 
 de ver sempre o lado bom da chuva que
 cai e não a faceta do raio que destrói.”


Aquele artista, no ensejo de um ganha-pão criativo, faz muito mais. Cria uma nuvem de sensibilidade e amor em meio à rotina de comportamento, por vezes tão fria. Colore o transitar noturno pela beira-mar. Alimenta a alma. Faz sorrir o coração.

Um fingidor que esconde a identidade, mas liberta sua poesia e verdade.


Por Míriam Bonora

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cumplicidade

Eu diria que a conversa foi punk, franca e deep.
Regada a copiosas lágrimas e massagem na alma. Também abraços.
Apesar de todo medo do início, valeu muito a pena. Mesmo.

Valeu tanto que merece ser carinhosamente guardada aqui...


Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras...
E que gratidão não tem medida nem expressão...


Isabella

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mano.

Treze dias depois de eu completar um ano de vida, ele abria aqueles enormes olhos pela primeira vez... Meu irmão de sangue.

A gente já viveu tantas coisas juntos... Quantas brigas por causa do canal de TV, do banco da frente nos passeios de carro...

Quantas loucuras, conversas e travessuras.

Éramos o terror da van que nos levava até a escola. Éramos o terror das empregadas domésticas. Éramos o terror de qualquer lugar onde estivéssemos!

A história para guardar num potinho, dentre tantas que poderiam simbolizar nossa ligação, é essa: o dia em que nós, ultra-jovens (na época, criança que não era adolescente mas não queria mais ser criança era chamada assim), resolvemos dar um rolê no centro da cidade com meias coloridas penduradas nas orelhas. Sim! Imaginem a cena. Fomos a sensação nos ônibus, nas ruas, por onde passamos: sucesso total!

Não tínhamos um porquê, não era um protesto. Mas nascemos assim, com essa atração natural pelos centros das atenções. Amamos aparecer...

Por essas e outras é que tenho a certeza de que só ele pode me entender completamente em todos os meus devaneios, crises e dúvidas sem pé nem cabeça.

... Somos o espelho um do outro. Quando imagino que algo é incompreensível aos outros, sei que a ele não é. Mesmo que ele não saiba de tudo da minha vida, mesmo que eu não saiba de tudo da vida dele, sabemos, por simplesmente saber, que teremos um ao outro quando precisarmos, na hora em que precisarmos, para o que precisarmos...

Hoje sinto por ele coisas que jamais imaginei. Como falta e orgulho... Amo demais esse cara... Meu irmão é fera!

Isabella

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Intensamente leve

          Eu me lembro da primeira vez que ouvi falar dela. Uma amiga me pedia que cuidasse bem daquele “tesouro”, que mudaria para o meu turno, matutino. Sem fazer ideia de quem ela era, disse que, claro, seria bem recebida. Passaram-se algumas semanas até nos aproximarmos. E não poderia ser de outro modo: as viagens das aulas de Sociologia. Compartilhávamos visões parecidas, e principalmente, questionamentos semelhantes sobre o mundo, as relações humanas, o viver. 

          E de conversa em conversa, percebemos o quanto éramos parecidas, e também diferentes. Diferença que auxilia uma à outra em nossas jornadas, que fortalece os laços de amizade, que ensina. Sempre vou lembrar-me de suas saias esvoaçantes, as rasteirinhas e os brincos de natureza. E mais ainda de seu sorriso espontâneo, de sua energia vibrante e amizade verdadeira. De seu amor pelos seres, pelo conhecimento, pela vida.

          Ela é como uma vela que nunca acaba, e que eu acendo sempre em meu coração. Que me faz acreditar no mais puro dos sentimentos, na amizade que se constrói com carinho, compreensão, consideração, respeito e simplicidade. 

          Quando algo me faz feliz, logo corro para compartilhar minha alegria, pois sei que ela será multiplicada. E quando entristeço, sei que ela me confortará, ouvindo e me dando um pouco de sua força, subtraindo minha dor.

          Admiro-a por ser tão leve, e tão intensa. Inteligente, elegante, e ao mesmo tempo, simples. Sei que ela ama com todo o coração, vive com toda a força de sua alma e aproveita cada momento como se fosse o único. 


          Que tem desafios, que erra, exagera, se desconcerta. E que já superou vários obstáculos, acertou, emocionou-se, amadureceu, viveu. E é por isso tudo que a amo. Quando olho em seus olhos, sei quem ela é, pois ela não se esconde nem finge... No máximo interpreta.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Despertar

by Sara Kaid Jounia, Oran, Algeria

       Eu vivia uma fase estranha. Quase de marasmo interno. Como se um controle remoto me direcionasse mais do que meus desejos e idealismos. Eu queria ir, mas não sabia bem como, não sabia mais ao certo “para onde” e tinha adormecido alguns sonhos que me eram tão nítidos... Restava-me uma vontade, uma chama que ainda iluminava meu espírito, mas que precisava de mais força para iluminar meus passos.

       É nessas horas que uma força superior te coloca algumas coisas e pessoas no caminho, para ver se você acorda. Foi quando uma em especial apareceu para ajudar. Dizia-me coisas que eu precisava ouvir de novo. Com suas reflexões, provocava-me a mudar, a questionar o que eu estava fazendo com a minha vida, com meus sonhos.

       Essa é a palavra: sonhos! Eu havia cortado minhas asas. Já tinha programado toda a minha vida, como se ela fosse um filme, dos mais previsíveis. E eu precisava que alguém me mostrasse aquilo de novo, as conexões, os mergulhos mais profundos do verbo SER.

        Era como se estivesse com saudades de mim mesma, tentando me desprender de amarras que me foram colocadas ao longo da vida, por outros e por meus próprios medos. Precisava acreditar que podia mais, que era forte o bastante para ser o que queria ser. E para descobrir o que eu nem sabia que era. Precisava que alguém me sacudisse e acreditasse na minha capacidade de realização. E essa pessoa acreditou, bem mais do que eu. Enxergava o que eu não conseguia mais ver. Me cutucou, e de um jeito sutil me disse: “Vai em frente, sonhe, descubra-se. Você é melhor do que pensa ser.”

       Depois de percorrer toda uma jornada interna, de ter sofrido muito com as rupturas, descoberto meus defeitos e qualidades, hoje posso dizer que cresci muito. E isso com a ajuda de várias pessoas, situações, experiências. Mas eu sempre vou me lembrar de uma em especial. Vou lembrar-me de quando isso começou. E de não suprimir os voos mais altos e ousados, de manter minhas crenças e amores bem perto de mim, e de estar aberta para o melhor da vida.

       Só fico triste em perceber que esta mesma pessoa parece não ter mergulhado tanto. É como se tivesse mudado de verbo e se perdido no caminho. Como se tivesse adormecido o que me iluminou um dia. E eu rezo para que um dia algo ou alguém o desperte e o traga de volta ao seu verbo mais bonito e verdadeiro. Tal como um dia aconteceu comigo...

Míriam Bonora

Diferente.

Foi quando ela estendeu a mão para quem eu havia deixado na mão... que eu olhei para ela, pela primeira vez e ainda relutante, de modo diferente.

Homenagem atrasada. Gratidão sem preço.

Isabella

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Quero guardar pessoas e suas histórias

Por muito tempo hesitei em escrever para o “potinho”. Na verdade, ainda não tinha descoberto aquilo que queria guardar nesse relicário. Mas nessa busca intrapessoal, descobri que quero guardar pessoas. E eu não estou falando de sentimentos pelas pessoas, mas estou falando delas mesmas. Pode parecer uma teoria meio canibalesca, mas de fato me interesso pelas pessoas e por suas personalidades, humores, sonhos, tristezas, etc.    
Quero guardar cada pessoa que perguntei a hora no ponto de ônibus e que puxei assunto para não tornar a espera tão difícil. Quero guardar minha mãe e o cheiro e o gosto de sua comida. Meu pai e seus resmungos logo quando acorda. Ah... queria me guardar também, para revisitar-me de vez em quando. Rir das idiotices, chorar pelas perdas e agradecer a mobilidade da vida. Queria guardar minhas roupas preferidas, minha canetas preferidas, meus desenhos preferidos. Entretanto não queria guardar tudo isso para lamentar o tempo que passou, mas para saudar a vida. Apenas isso.
Há mais de um ano escrevi um texto sem muito motivo, mas pela santa tecnologia pude guardá-lo no meu potinho chamado “computador”. Segue em anexo. Segue sem nexo. Enfim, é este abaixo:


“A viagem”
Mais uma viagem.
Subi no ônibus, cumprimentei o motorista, e no corredor daquela minhoca com rodas, vi pessoas sentadas, almas cansadas, rostos que jamais tinha visto e que jamais tornaria a ver. Triste pensar assim, pensei. Quantas pessoas não passam por nós e sequer notamos a sua presença? Então naquele momento resolvi fazer diferente, resolvi ser diferente. Esbocei um sorriso à todos que estavam ali. A recíproca foi verdadeira, mas somente para alguns. Continuei caminhando à procura do meu lugar. Poltrona 25. Janela. Sentei. E por sorte ou não, não tinha ninguém ao meu lado, ninguém para compartilhar as horas da minha viagem. Abri um livro. “A metamorfose” de Franz Kafka. Leitura difícil para uma estrada esburacada. Uma página, duas, trê...ah chega! Não estou entendendo nada! Vou deixar os dramas da sociedade e a morbidez de Samsa para depois. Tentei dormir um pouco. Foi em vão. Meus olhos me enganavam cada vez que se fechavam. Olhei para janela. Ainda faltava muito tempo para chegar. O calor tinha aumentado, o barulho também. Crianças chorando. Moscas zumbido. Pessoas falando. E eu ali, imóvel, quase que inerte a vida. Retornei meu olhar à janela. Estávamos passando por uma vila. Que outrora nunca tinha notado. Casas simples, poeira. Casas feitas de poeira. Imaginei-me em um lugar assim. Seco, árido, triste. Quase como uma fotografia envelhecida. É isso. A paisagem me remetia à uma fotografia envelhecida, uma fotografia em sépia. Aquelas que ficam guardadas dentro de uma caixa, e inevitavelmente, um dia você se lembra e recorre, para abastecer as suas lembranças. A foto não era só paisagem, existiam pessoas e animais. Pessoas com corpos pesados, sujos, suados. Existia olhar. Já o olhar era cheio de vida, cheio de história. A vila foi passando pela janela, assim como aquelas histórias. Perguntei-me: Quantas histórias não passam por nós? Quantas histórias não passam por nossas janelas? Por nossos olhos, nossa janela da alma? Marias e Josés. Amores e desencontros. Felicidades. Tristezas.
Ao perder a vila de vista, um homem de meia idade interrompeu meu pensamento: “Posso me sentar aqui?”, perguntou. “Claro.”, respondi. Por um instante nem olhei para o senhor que pra mim, tinha cara de José. Mas depois a curiosidade me levou a olhar para sua mala, que estava cheia como quem trouxe tudo que pudera. “O senhor vai ou vem?”, perguntei. Ele respondeu com um largo sorriso e um brilho incomparável no olhar: “Volto!”. Pronto. Estabeleci um diálogo.
- Volta pra onde?Se não for incomodo responder...
–   Volto pra casa. Pra casa!
–   E há muito o senhor não volta pra lá?
–   Tanto que a saudade não é capaz de contar!
–   E o senhor vem de onde?
–   Venho de longe... tão longe que as lembranças não me deixarão esquecer!
–   O senhor fala bonito. Trabalha em que? Com quem?
–   Com vida! Com almas... Desculpe-me meu ponto é o próximo. Passe bem!
–   Mas eu...
  Antes mesmo que eu pudesse perguntar seu nome ele se foi. Assim como chegou.
Fiquei só de novo. Apenas amiga dos meus devaneios. O que será que ele levava naquela mala? Pra quem levava? Será que esse alguém estava a sua espera? Será que era merecedor de tanta ansiedade? Fiquei me perguntando e logo palpitei em pensamento. Eu acho que o senhor “José” trazia amor, trazia vontades, trazia histórias! Infelizmente eu não sei. Nunca vou saber. Só poderei imaginar!
O resto da minha viagem foi isso: Uma grande viagem dentro de mim mesma!
Enfim meu ponto chegou. Não tinha ninguém me esperando. Se quer sabia pra onde ia. Por um momento pensei em ficar. Esquecer tudo que tinha visto. Mas a alma gritava que não. Voltei. Subi no próximo ônibus que passou. Não sei pra onde vou. Nada me importa. Só eu sei o drama que cultivo. Fui. Pra uma nova viagem. Uma nova descoberta. Uma velhinha sentou ao meu lado. Aposto que seu nome é Maria. Dessa vez não vou hesitar em perguntar. Ah... ela tem uma bolsa, que com certeza está cheia de histórias para minha Viagem de volta à lugar nenhum.

É isso que eu quero para minha vida! Conhecer e acumular histórias. Acho que escolhi as profissões certas. Sou jornalista para descobrir e contar histórias e sou atriz para interpretá-las....

Por Rafaele Breves

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Dança

Um dia abri o jornal e logo me deparei com uma notícia sobre aulas de dança gratuitas. Decidi que finalmente sairia do “dois pra lá, dois pra cá”. Só não imaginava que aprenderia muito mais do que dançar. O projeto, mantido pela prefeitura, era voltado aos adolescentes, mas a maior parte dos alunos era de jovens com mais de quarenta anos. Como havia muitas pessoas na fila de espera para a dança de salão, a organização decidiu criar duas turmas, dividindo por faixas de idade.

Colorful wind - Aulona Goxhaj. Fier, Albania
Eu optei por ficar na turma dos jovens mais experientes, pois o horário me permitia também participar das aulas de jazz. É claro que a diferença era nítida quanto à evolução dos passos, viradas e coreografias.

Mas era ali, junto àquelas pessoas, na maioria mulheres, que eu pude experimentar algumas das sensações mais gratificantes da dança. 


Como eu tinha facilidade em aprender os novos passos e também agilidade, por ser mais nova, acabava por fazer dois papéis: de condutora e de conduzida. Afinal, como não era de se estranhar, havia poucos homens.

Eu vivia as duas sensações dos movimentos. Aprendi que com elas deveria ter calma e não atropelar seus passos com meu ritmo acelerado. Adaptava-me a seus limites. De aula em aula, cada uma delas evoluía no seu tempo e compasso. E eu me sentia honrada em fazer parte daqueles momentos.

Durante as aulas de jazz, em que a turma era quase a mesma, elas se mostravam igualmente dedicadas. Eram mais de três horas ininterruptas de atividade, entre as duas modalidades, e elas mostravam uma energia tão intensa que pareciam garotas de 12 anos. Encantava-me a vontade e a alegria que elas tinham em estar ali, em aprender a coreografia, em remexer os corpos, em estarem reunidas.

É claro que não era sempre um mar de rosas. Havia cansaço, um pouco de dor, dificuldade em fazer braços e pernas coordenarem os movimentos que o cérebro os mandava executar. Mas os sorrisos e o brilho no olhar voltavam sempre.

Não havia o fardo de mostrarem-se umas melhores que as outras, de conquistar uma posição de sucesso ou qualquer status tolo que nós “jovens” queremos tanto, e pelo qual nos estressamos tanto. Elas eram o que sua força interior as dizia para serem. Buscavam a evolução a partir dos degraus que elas haviam alcançado, sem olhar para os lados ou para trás. Simplesmente dançavam suas vidas da melhor forma possível, com a leveza de quem é feliz apenas por estar em movimento, por sentir... e por compartilhar o espetáculo de suas vidas.

Por Míriam Bonora

domingo, 28 de agosto de 2011

Laços

Era o início de uma jornada de grandes descobertas, transformações e novas pessoas na minha vida. Seres especiais que marcariam quase quatro anos de universidade. Era uma quinta-feira e os grandes e idênticos blocos amarelos estavam praticamente vazios. Somente alguns poucos calouros se aventuravam por aqueles corredores.

Tunnels - Mechelle Charlton, Glasgow, UK

E ele estava lá, desde o primeiro dia.


Como se estivesse desde sempre na minha vida. Precisamos de poucas palavras para perceber que nossas almas já se conheciam há taaanto tempo! Admito que lembro pouco das primeiras conversas, mas não esqueço daquele jeitão simples e carinhoso que é sua marca de ser. Daquele sorriso sincero que eu quero ver sempre em seu rosto, que já sentiu a brisa e o vento de alguns cantos desse país, e agora estava aqui nessa terra rasgada.

Eu posso dizer que, depois de algumas rajadas machucarem nossos corações e até nossos corpos...

Depois de alguns anos em que os caminhos nos moldaram e inevitavelmente nos fizeram amadurecer e adquirir novas responsabilidades...

Apesar de termos mudado, somos os mesmos. De um jeito diferente, mas ainda somos aqueles sonhadores, verdadeiros e bons amigos.

Não temos mais aquelas tardes ociosas a rir e jogar pôquer com as balas do bloco A, a jogar conversa fora nas escadas da biblioteca ou a tirar fotografias nos arbustos espalhados pela universidade.

Mas os laços que nos ligam como almas afins são eternos. E eu sei que ele sempre terá toda a paciência do mundo para me ouvir contar minhas dores, e eu as dele. E que me incentivará a encará-las com coragem, mesmo que tente escondê-las. E ouvirá tudo isso com a mesma atenção, quantas vezes eu precisar falar. Sem me julgar. Porque nossa amizade é pura e o respeito e confiança que construímos é forte e genuíno. Porque a generosidade de tuas palavras e o conforto do seu sorriso sempre estarão ali, a meu alcance, quando precisar.

Porque uma amizade como a dele a gente guarda com muito zelo, aqui, bem juntinho, do lado esquerdo do peito. Para sempre.


Por Míriam Bonora

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Estrela Intensa

Escrever sobre ela é deixar meu coração transbordar paixão. Sim, paixão!

Da mesma idade que eu, do mesmo mês que eu, tão diferentes e tão iguais. Muito mais que amigas ou irmãs pelos laços que a fé e a convivência tecem, somos parte uma da outra. Chego a crer que há uma espécie de atração mútua entre nós, de alma e pele.

Não vamos além disso, mas quem quer mais? Somos o tudo, o completo, o inteiro!

Ela me dá a sensação mais maravilhosa do mundo: sentir-me amada da mesma maneira, com a mesma intensidade, força e verdade com a qual a amo. Queremos morar juntas – eu, ela e uma amiga em comum, se um dia chegarmos a ser velhinhas viúvas, que da vida não têm mais nada a esperar.

E eu poderia chamar de amizade. Poderia chamar de amor. Mas chamo de paixão para tentar – ao menos tentar – transmitir um pouco do quanto por ela o meu sentimento é forte, talvez mais até mesmo do que a raiz plantada, cuidada e solidificada por nós: nosso relacionamento.

Demorou para entender que a palavra paixão poderia excluir a ideia de desejo sexual. E não houve felicidade maior do que quando, pouco me importando com as interpretações alheias, resolvi dizer para quem quisesse: sim, eu sou apaixonada por essa menina! Sem razões, embora eu pudesse fazer uma lista.

Quando ela chora, dói lá no fundo da alma. Quando ela ri, eu me alegro. Compartilhar momentos com ela é sempre prazer. Temos colo, cafuné e liberdade para falar o que quiser.

Lembro de tantos episódios que poderiam ser eternizados como aquele “perfeito para guardar num potinho”... Boas gargalhadas e profundas dores que vivenciamos, celebramos ou nos ajudamos a superar... Mas entendo que a melhor das nossas histórias é a de hoje: continuamos a viver esse amor, essa amizade, essa paixão; ventos sopraram, tempestades caíram e estamos mais fortes, mais vivas, mais unidas, ainda que o convívio já não seja diário, peça do destino inevitável, praga da vida que é linda, mas tem seus dissabores...

Tem dia que acordo pensando: daria tudo para ter que ter acordado às 5h30min da manhã, colocado o uniforme, sina de ensino médio, só para, ainda frio o sol, encontrá-la, abraçá-la, desabafar e rir ao seu lado, sabendo que no dia seguinte assim também seria.

Mas a distância física já não assusta. Por inúmeras vezes choramos de medo, mas aprendemos: amor aproxima bem mais que rotina. Estamos prendidas. Não é de encher um potinho inteiro?

Saboreio suas lágrimas, pois amo o sal que lembra a cura; suas risadas me fazem leve e seu olhar, tão terno e brilhante, é para mim farol, bálsamo e confirmação, certeza de sintonia.

Só por encanto, canção e poesia que a vida dela é ao meu coração, sou mais feliz.

Eu a chamo de estrela intensa!

“deixa eu dizer que te amo / [...] Isso me acalma, me acolhe a alma / Isso me ajuda a viver”

Ela costumava cantar (bela, doce e adolescente).


(Meu amor, este texto está escrito há tanto tempo... Estava esperando o momento certo de publicar. Acredito que este momento é hoje. Agora.)

Isabella

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

No clima do Dia dos Pais...

Canção

Eu já tinha passado dos dezoito quando me vi nos colos dele de novo, em plena madrugada. Meu corpo pedia socorro, afinal, tanto enjôo e mal estar deviam significar algo. Sem poder fazer mais nada, a não ser me amparar e aguardar tudo aquilo ter um fim, usou a velha tática dos tempos em que eu era criança.

Cantou:

“O dodói já passou, já passou o dodói, o dodói já foi embora, foi embora, pra bem longe daqui, pra bem longe daqui. O dodói já não dói mais, já não dói mais, porque pra longe ele foi...”.


A canção, na infância, parecia ter efeito melhor que de remédios. Naquela madrugada, não curou meu estado doentio, mas calou lá no fundo da alma uma calma tão grande que chegou a funcionar como anestesia...


Obrigada, pai, pela canção.

Pela dedicação de sempre...

E por aquela madrugada em claro.


Isabella

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Bom dia Especial!

No sábado a noite, fui dormir pensando que enquanto a maioria das pessoas estaria curtindo o "domingão", eu e meus colegas estaríamos lá, no 'Escola da Família', trabalhando!

Mas eu não sei explicar, acho que são coisas do destino, cheguei com aquela cara de sono de sempre, pois acordei, coloquei o uniforme e saí correndo, nem tive tempo de tomar café da manhã. Liguei para minha mãe, dirigindo e morrendo de pressa. Passei no mercadinho do
meu bairro, comprei um miojo e fiquei pensando "Fast Food econômico". E lá estava eu, a caminho de mais um "domingão" na escola.

Ao chegar, peguei minha bolsa e meu miojo, falei bom dia para a Tais, que estava na recepção, e me dirigi à Gestora e à minha Educadora. Falei bom dia a elas e então um garotinho especial, de chinelos, bermuda, blusa de moletom e boné, com um sorriso veio e me estendeu a mão. Fiquei surpresa!

Com a mesma gentileza, estendi minha mão. Ele a apertou firme e antes que eu pudesse ou tentasse sair desse aperto de mãos, ele me deu um forte abraço. Eu, mesmo sem entender o porquê de tanto carinho, também o abracei. No final daquele carinhoso bom dia, perguntei quem ele era. A resposta foi apenas um gesto. Ele levantou as duas mãos para cima, como quem diz não saber o próprio nome.

Fiquei parada por um tempo olhando para ele, tão alegre, estendendo a mão a todos que passavam pelo pátio da escola. Fui
até a recepção e perguntei à Tais se ela o conhecia ou se sabia como e com quem ele havia chegado na escola. Infelizmente, ela tinha as mesmas informações que eu sobre ele: chegara sozinho, era muito carinhoso e quando indagado sobre o próprio nome, ele nada dizia, apenas gesticulava.

Continuei ali alguns minutos, próxima à recepção, olhando como brincava feliz. De repente ele se aproximou, fez um gesto, pegou minha mão e numa atitude tão linda e gentil a beijou e sorriu... Eu fiquei maravilhada com aquela criança tão carinhosa, que apesar de todas as suas dificuldades não deixa um segundo de ser feliz! Então, tomada por aquele carinho eu o abracei, bem forte, retribuindo aquele gesto tão carinhoso.

Naquela manhã, posso dizer que ganhei o meu "domingão" ao receber aquele bom dia tão carinhoso de uma criança especial, não apenas pela sua deficiência, mas também pela sua alegria de viver e ainda mais por sua simpatia.

Fiquei emocionada ao perceber que, apesar de todas as limitações, aquele garotinho não se entrega à depressão, pelo contrário, ele quer mais é se entregar à felicidade. Foi um puxão de orelha para que eu nunca mais reclame ao ter que me dirigir a mais um dia de trabalho, mas agradeça por ser quem sou e por todas as oportunidades que tenho em minha vida!

Pra ser feliz basta querer! Eu quero e você?

Marcela

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Troca

Liberdade, alívio, confiança, felicidade, graça, amizade, amor.
Eu nunca vou me esquecer daquele sorriso que ela me deu.

Só isso por hoje?

Não, meus amigos...

Tudo isso.


Isabella

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pedaço do céu


Este texto não conta uma história, um momento ou sentimento, mas vários. Um lindo conjunto de emoções vividas ao tecer dos laços mais belos e fortes da minha vida: os que construí com meus sinceros amigos.

Amores mais preciosos. Companheiros de sempre. Aqueles que não hesitam em lhe oferecer um sorriso e um abraço sincero quando seu coração sangra por quem não merece. Os que te ligam à meia-noite só para saber se você está bem, como foi seu dia. Para quem você liga no exato momento em que eles estão pensando em você. Apenas um olhar basta para saber se o outro está triste, feliz, cansado ou com dor de dente.

Aqueles que te dizem o que você precisa ouvir, não o que a ilusão pede. E, mesmo que as palavras firam, seus braços o confortam e amenizam qualquer pesadelo.

Pessoas com quem as horas passam voando. Que te fazem rir até sua barriga doer e seus olhos lacrimejarem de alegria. Às vezes somem, distanciam-se do corpo, mas nunca do coração. Mesmo a oceanos de distância, estão tão próximos quanto as pétalas de uma flor. Juntos exalam o mais precioso dos perfumes. Beleza pura de uma relação verdadeira. Existe e persiste pelo bem que um faz ao outro.

Verdadeiros amigos são um pedaço do céu.


Míriam Bonora



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Tatuagem


“Vamos brincar de que nada aconteceu?”, escreveu em seu blog. “Como eu gostaria que isso fosse para mim!”, comentei. “Vamos brincar?”, respondeu. Depois de uns dias, finalmente, tomei coragem, me aproximei e disse: “Você sabe que sempre gostei de brincadeiras, não é?”. Então, um emocionado e desajeitado abraço, regado por lágrimas e corações palpitantes.



Ela me apresentou à Rita Lee. Rita Lee, a ela: “entre corações que tenho tatuados, de você me lembro mais”. Eu jamais a esquecerei. Minha melhor amiga da infância-adolescência...
Cresceu.  
Quando nos vimos, já não tínhamos mais nada em comum senão o amor.
Eu não soube lidar com suas escolhas. Ela não soube lidar com minhas opiniões.
Quanta lágrima derramei por tê-la perdido! Doeu demais. Doeu como nunca havia doído, como nunca mais doeu de novo. Conheci o rancor e o desgosto de viver. Senti raiva do mundo, da juventude, das drogas, dela e acima de tudo, senti raiva de mim mesma.
Mas passou.
O perdão é poderoso e essa lição devo a ela. O momento de dá-lo e de recebê-lo, relatado no início, houve bem depois. Ficou como tatuagem no coração. Segundos que guardarei para sempre. Indescritível a sensação de alma lavada, alívio, profunda felicidade e singela paz.
Mas a distância já era demasiadamente imensurável para um caminho de volta...
Hoje tudo que sei é que, apesar de não saber como nem onde está, ainda a amo com todas as minhas forças. Para mim, ela sempre será a minha amiga. Criança, pequena, pura, linda, poesia, de leituras sofisticadas e letras redondas, pão de queijo, coca-cola, suco de abacaxi, risadas, piadas, caminhadas, jogos de futebol na escola, segredinhos, carinhos, cafunés e só.

Fico um bom tempo sem sentir sua falta. Mas quando a saudade bate à porta, não há frase que expresse melhor o que sinto do que a que estampava seu blog aos quinze anos de idade:

why so deep?

Cenas do meu filme em branco e preto
que o vento levou e o tempo traz
Entre todos os amores e amigos
de você me lembro mais...
(trecho da música Minha Vida, de Rita Lee)

Isabella

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ainda

Passei um tempo recolhendo gravetos, à procura dos mais secos e inflamáveis para montar uma fogueira e aquecer aquela tarde fria. A busca entre os arbustos parecia-me uma forma de também me embrenhar em pensamentos dispersos, escondidos, alguns ressequidos - aqueles que insistem em povoar nossa mente. Meu olhar rodopiava à meia distância enquanto caminhava a esmo, indo e voltando, recolhendo pequenos galhos secos. De repente a imagem dela vinha à cabeça, uma palavra, um sorriso, um certo ajeitar de cabelos. Movimentos tão suaves que quase simulavam um slow motion, quando o tempo parece respirar segundos para só então seguir adiante. Minha mão já expandia dedos para segurar os gravetos e o pensamento continuava a recolher detalhes dela. O marfim entalhado em dentes, emoldurado por lábios de um surpreendente cor-de-rosa, que consomem a atenção de qualquer mortal com um mínimo de senso estético e amor à arte. O frio afiava um cortante zunido e em um instante despertou-me das divagações. Escolhi mais alguns gravetos e voltei o olhar para o céu de matizes cinzentos. Novamente senti o dia gelado, esquecido pelo sol. Ainda guardo esperanças. Não sei de quê exatamente. Mas me apego ao "ainda", palavra que pode parecer inexpressiva e incompleta à primeira vista, mas que me ajuda a esperar por alguma coisa... Talvez por aquela mesma doce sensação de um abraço que dispensa uma fogueira para aquecer a alma.

Jimmy Machado

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Paixões em família

Quando ela veio ao mundo, não sabia que seria minha sobrinha.

Sou apaixonada por ela desde o primeiro instante, do primeiro olhar brilhante, da primeira gargalhada, do primeiro choro, do primeiro “agum” – que queria dizer “água” – e do primeiro “moti?” – que queria dizer “vamos?”. Lembro-me até hoje de como o corpinho dela se encaixava direitinho no meu colo... Ali ela dormia e eu descansava do mundo.

Com dois anos, ela frequentava minha casa como se fosse da família. Cresceu compartilhando domingos conosco. Pimentinha ardida, teimosa, arteira que só. Férias sem dormir uns três dias em casa não eram férias de verdade. Até hoje não são...

Em uma dessas férias, quando eu tinha quatorze, ela três, sua mãe me convidou para ir a Americana, cidade das duas avós, fazer companhia. Lá, em um almoço na casa da avó paterna, vi pela primeira vez o homem com quem passarei a dividir o mesmo teto daqui alguns meses. Seu tio. Naquele dia nem olhei direito para ele... Um misto de timidez e distração.

Agora, conto as horas para vê-la, com dez anos completos, entrando na igreja. Minha dama de honra. Minha paixão coroando minha outra paixão.

Olho para ela e me vejo. Percebo nos seus olhinhos admirados que ela sente a mesma coisa quando me olha. Ela não é sangue do meu sangue, para explicar tamanha identificação... Mas é maravilhoso saber que se um dia eu tiver herdeiros, serão sangue do sangue dela.

Isabella

Lanche da tarde

Era uma tarde de outono. Eu fazia pequenas compras em um hipermercado quando decidi sentar-me em uma das dezenas de mesas da praça de alimentação. À minha frente, chega um casal de senhores lá pela faixa dos 70 anos. Depois de pedir dois pastéis e algo para beber, acomodam-se, ajeitando-se entre algumas sacolas de compras. O pedido chega à mesa. Para acompanhar, cerveja. E eu fico ali a contemplá-los em sua simplicidade. Calma e amorosamente, o senhor com casaco de lã verde compartilha aquele momento tão singelo com a esposa, de cabelos grisalhos levemente penteados para trás.  Os dois trocam alguns olhares e palavras. A cada bocada, a massa esfarela por toda a roupa do marido, além de se esparramar pela mesa e pelo chão. A senhora, com doçura, não interfere. Permite-lhe. O pastel acaba, o copo aos poucos fica vazio. Antes de sairem, ela o ajuda a retirar os farelos de sua "travessura" de fim de tarde. Os dois levantam-se. Ele oferece apoio à amada e os dois saem caminhando, aos passos de quem tem nos braços um amor construído a cada dia, durante anos e anos, a cada parada para um pastel.

Um casal que age com carinho e generosidade nas situações
corriqueiras é invencível nas grandes batalhas.

A lembrança desta cena ficou em minha memória por um bom tempo, talvez uns dois anos. Passados alguns outonos, ainda me traz bons sentimentos.

O amor verdadeiro pouco tem a ver com romances cinematográficos, de novela ou livros. Pode até encontrar neles alguns fragmentos de sua manifestação. Mas não está ali, e sim em cada dia, cada gesto. Seus tijolinhos são assentados com dedicação, respeito e cumplicidade, que devem estar presentes em cada momento, seja ele uma grande batalha ou um almoço de domingo. E esse talvez seja o maior desafio. O almoço de domingo. A nota vermelha do filho. A noite exausta de sexta-feira. Fazer de cada dia uma nova oportunidade para que o amor permaneça e torne-se ainda mais forte. Encontrar nos conflitos mais nebulosos ou situações do cotidiano o brilho e acalanto do sentimento mais puro.  Saber que o amor se faz, sente e eterniza em conjunto, resignando-se de qualquer egoísmo e orgulho.

Eu não sei se este casal enfrenta todas as situações com tal companheirismo, nem há quanto tempo estão juntos, para onde vão, o que sentem. Mas sei que este momento deve ser multiplicado, e acho que eles devem estar fazendo isso agora...



Miriam Bonora

terça-feira, 10 de maio de 2011

O mais longo abraço.

Cúmplice, amigo, irmão. No meio da rua, na frente de todo mundo.

Foram uns quinze minutos de abraço. Sem exageros. Quinze minutos sem perder a intensidade nem a vontade de continuar ali, abraçando.

Com direito a tudo que um gesto como esse oferece de melhor: cura, conforto, alívio, consolo, alento, força, paz..

Sem mais.

Há palavras que descrevam um abraço?

Isabella

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Passeio

Ver seu sorriso sincero e a alegria do seu corpo se movimentando para lá e para cá me faz esquecer qualquer pesar ou cansaço. O amor incondicional de um cachorro conforta qualquer coração já um tanto amolecido por natureza.

Hoje era o dia dela, minha lindinha Peteca. Aliás, nosso, só nosso. Dia de sair por aí a encontrar o que vier pelo caminho, respirar os ares das ruas, admirar as antigas árvores da praça e correr como duas crianças inocentes.

Até parece que o tempo se esqueceu de passar. Pouco importa o tempo. O momento é maior que qualquer minuto contado no relógio. Simples, mas um dos melhores. Ela que não entende o que eu digo, mas compreende o que eu sinto como ninguém. Quando me vê triste, logo se joga com toda a sua graça e espontaneidade no meu colo, como quem diz "Ei, fique feliz! Eu estou aqui! Eu amo você!"

Ah se todas as relações fossem assim tão puras e verdadeiras! Não teríamos tantos poemas tristes. Veríamos as folhas caírem como uma brincadeira de outono. Sorriríamos para as pessoas, mesmo sem conhecê-las. Dormiríamos com a certeza de ter feito alguém feliz, e sonharíamos com passeios pela praça, sem precisar de contos de fadas. Só das mais simples e belas realidades.



Míriam Bonora
2 de maio de 2011

sábado, 30 de abril de 2011

Era apenas um louco.

Ele me amou em menos de um minuto. Nunca fui amada por alguém de maneira tão rápida. Não sabia onde colocar os olhos depois que me disse: “te amo”. Não, eu não estava sendo assediada. Na fila do ônibus, um louco me abordou. As pessoas olhavam assustadas para ele. Ou melhor – pior, na verdade – as pessoas nem olhavam. Ele cutucou meu ombro. Depois de dizer algo que já não me recordo, perguntou se podia me pedir algo. Eu disse “depende”. “Ora por mim”. Foi o que ele pediu. Respondi “claro! Qual o seu nome?”. O louco marejou os olhos. Levantou as sobrancelhas, torceu os beiços em espanto... Então me amou. “Te amo”.

Foi o que ele disse. No momento seguinte, enquanto eu ainda procurava onde por o olhar, entendi. Ele cutucou a mulher à minha frente. Ela olhou e rapidamente abaixou a cabeça. Ele olhou para mim, olhou para ela, olhou para mim de novo. Naquele momento, não conseguia deixar de olhar para os olhos daquele homem quando ele me olhava. Estava admirado! Chamou a moça de novo. Ela sequer se mexeu. Voltou-se para mim. “Você vai orar?”. “Sim, todo mundo precisa de Deus, não é?”.

Aquele beiço levantou-se de novo. Ele não entendia. Nem minha atitude, nem a da moça à frente e penso que nem a dele, nem a de ninguém. Confesso que tive medo. Mas eu não poderia agir de outra forma. Encarei aquele louco. Admito que mais que qualquer coisa, o que me fez respondê-lo foi o fato de eu sentir que sou como ele. Eu também sou louca. Sei como ele se sente quando não é correspondido, quando não o deixam falar. Sei como é querer ser percebido, ouvido e, simplesmente, não ser. Sei como esse mundo atordoa. Só não estou na rua, mas sou louca. Meu ônibus chegou. Ele fez um sinal de jóia e me estendeu a mão. Estendi as minhas e o cumprimentei. 

Percebi alguns olhares de “o que ela está fazendo, meu Deus?!”. Era a mão de um louco! Suja, quem sabe com alguma doença... Não me importei com o que estavam pensando. Tocar aquela mão foi a decisão mais certa que tomei. Lavar as minhas, depois, é que foi difícil. Era o que eu mais deveria e ao mesmo tempo o que eu menos queria fazer. Na minha cabeça, não havia tocado na mão de um louco... Toquei nas mãos do homem que me amou sem sequer saber meu nome! Saí dali inconformada: eu também fiquei sem saber o nome dele. Embarquei no ônibus. Orei.

Esse blog veio na hora certa. Não queria sair por aí falando dessa história porque pareceria propaganda de mim mesma. Mas também não queria me esquecer daqueles três minutos de convivência. Foram três minutos desses assim: para guardar num potinho. Poderiam ser menorizados, afinal, era apenas um louco. Mas quer gente mais sábia que os loucos? Eles sabem, como ninguém, que tudo o que esse mundo precisa é de amor. De amor! Daquele que uma oração pode demonstrar. Daquele que dá sem esperar receber... Daquele que se declara sem medo nem pudor. Muito mais que eu a ele, o louco me deu amor naquela tarde.

Isabella
29 de abril de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vai, volta ...não sei mais foi lindo!!

Foi tão divertida a forma como te conheci. Foi aquele seu amigo maluco quem me abordou, em meio a uma conversa boba num fim de tarde, naquela praça com algumas amigas.

Você o tirou do caminho, acho que me pediu desculpas e explicou que ele havia bebido demais... Eu ri. Então nossa conversa teve início. Falamos sobre tantas coisas! Meu trabalho, seu trabalho, minha faculdade, sua faculdade e até sobre amor ao próximo, no sentido de estender a mão a quem precisa.

Nesse meio tempo a gente só ouvia seus amigos e minhas amigas, perguntando quando o beijo ia rolar... Na verdade acho que a gente nem estava pensando nisso, nosso papo me surpreendeu e acredito que a você também. Esse dia para nós dois, acredito eu, foi a prova de que é possível conhecer pessoas inteligentes e legais nos mais diversos lugares, até mesmo onde é mais provável encontrar meninos e meninas fúteis, generalizando, para não ter que explicar mais!!

Enfim o beijo aconteceu, foi rápido e logo fui embora, praticamente um beijo de despedida pra selar a excelente conversa e tornar mais marcante o dia em que nos conhecemos. Até hoje eu me lembro de tudo o que aconteceu naquele fim de tarde, foi muito diferente, tudo o que se passou com tanta naturalidade, que me encantou.

Os dias passaram e a gente manteve contato. Nos encontramos dias depois. Por algumas vezes até que eu tive a estupidez de dizer que não estava em um bom momento. Aí você se afastou, sumiu de perto de mim e uma infinidade de outras situações foram surgindo, nos afastando cada vez mais. Por algum tempo eu desisti, aceitei sua ausência com muita calma, para não provocar uma situação ruim.



Depois de um tempo eu te procurei e você ressurgiu dentro de mim como uma fênix, renascendo dos resquícios daquela paixão que haviam ficado em mim. Eu pensei que a chance de conquistar você e demonstrar meus sentimentos tinham retornado junto. Me enganei e sem me dar tempo para conseguir falar o que estava sentindo, você se foi mais uma vez.

Hoje eu fico aqui observando sua vida de longe...às vezes te vejo pelas ruas... Eu sei que a cidade nem é tão grande assim, e acabo te encontrando por aí! Mas não pense que fico o tempo todo pensando em você e querendo saber como está. Às vezes a saudade vem bater dentro do coração e eu procuro informações nos meios em que posso obtê-las. No mais, levo minha vida normalmente.

Claro que você marcou e faz parte da minha história, mas enfim como nada é para sempre, nem mesmo a nossa existência, o "você" em mim já passou. Se vai retornar não sei, só sei que o tempo que passei perto de você naquela noite no parque, me fez sentir tão bem! Posso dizer que jamais vou me esquecer daquele passeio!

"Espero que o tempo passe...  Espero que a semana acabe...Espero que o tempo voe..."


Marcela Rodrigues

Encontro

Light A Heart -- Jeannette, Schwetzingen, Germany

Era uma manhã nublada de sábado, meados de agosto em Sorocaba. Um dia comum se não fosse por um especial encontro. Tem gente que não acredita em destino, mas eu senti com minha própria alma.

Tudo foi providencial. Não costumo me atrasar, mas nesse dia cheguei uns dez minutos mais tarde do que o combinado com uma amiga. Perdi o ônibus para a Feira de Profissões do Objetivo. Só nos restava aguardar o próximo na fila do terminal.

Foi quando apareceu um certo alguém, sozinho, para pegar a mesma linha - 65 Campolim. Cumprimentou minha amiga. Eram colegas de cursinho! É engraçado. Parece que meu coração tem radar. Demora a encontrar, mas quando vê pela primeira vez já percebe que tem algo a mais. Ali. No olhar doce daquele moço que eu nem sabia o nome, com quem apenas algumas palavras troquei.

"Ê coração besta! Foi se apaixonar repentinamente. De novo. Para sofrer outra vez." - foi o que pensei semanas depois. Até conversamos uma ou duas vezes pela internet logo depois daquele dia. Mas como doeu quando soube que já havia alguém ao seu lado!

Para minha sorte, era só um breve alguém. Seu "eterno enquanto dure" era comigo. E tudo começou com um sábado nublado, um soninho de atraso e um olhar cativante.


Míriam Bonora

Bem-vindos!

Quando o coração bate mais forte e os olhos brilham mais que cristal,
Aqueles segundos em que nada mais importa no mundo,
O riso e a graça de um menininho que acabou de chegar por aqui,
A frase que sai da alma e chega como afago aos seus ouvidos...

São vários os momentos de sublime felicidade que eu queria poder "guardar num potinho" para, quando quisesse, abrir e me transportar para suas lembranças tão doces.

Aqueles sentimentos que fazem a vida valer a pena, que levam todo o medo e ansiedade para bem longe e fazem seu corpo inteiro sorrir como uma criança inocente.

A saudade deles e o desejo que se multipliquem me fizeram desabafar um dia no Facebook. De um simples e rápido post surgiu uma breve conversa com duas pessoas especiais: Rafaele e Marcela, companheiras de tantas aventuras, tensões e alegrias.

Se a nós três faz tão bem relembrar momentos tão belos, por que não compartilhar com mais pessoas?

É por isso que este blog existe, a partir de hoje - 28 de abril de 2011, para que todos possam partilhar seus 'pedacinhos de felicidade'. Fica aqui o convite para que você também faça parte deste espaço.

"...o amor é contagioso!"
(não é mesmo Patch Adams?)