quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ainda

Passei um tempo recolhendo gravetos, à procura dos mais secos e inflamáveis para montar uma fogueira e aquecer aquela tarde fria. A busca entre os arbustos parecia-me uma forma de também me embrenhar em pensamentos dispersos, escondidos, alguns ressequidos - aqueles que insistem em povoar nossa mente. Meu olhar rodopiava à meia distância enquanto caminhava a esmo, indo e voltando, recolhendo pequenos galhos secos. De repente a imagem dela vinha à cabeça, uma palavra, um sorriso, um certo ajeitar de cabelos. Movimentos tão suaves que quase simulavam um slow motion, quando o tempo parece respirar segundos para só então seguir adiante. Minha mão já expandia dedos para segurar os gravetos e o pensamento continuava a recolher detalhes dela. O marfim entalhado em dentes, emoldurado por lábios de um surpreendente cor-de-rosa, que consomem a atenção de qualquer mortal com um mínimo de senso estético e amor à arte. O frio afiava um cortante zunido e em um instante despertou-me das divagações. Escolhi mais alguns gravetos e voltei o olhar para o céu de matizes cinzentos. Novamente senti o dia gelado, esquecido pelo sol. Ainda guardo esperanças. Não sei de quê exatamente. Mas me apego ao "ainda", palavra que pode parecer inexpressiva e incompleta à primeira vista, mas que me ajuda a esperar por alguma coisa... Talvez por aquela mesma doce sensação de um abraço que dispensa uma fogueira para aquecer a alma.

Jimmy Machado

Um comentário:

  1. Oba! Mais um ótimo talento para nosso time! Lindo, Jimmy. Não te conheço, mas muito obrigada e continue com o "ainda", ele é maravilhoso para o coração!

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