segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Dança

Um dia abri o jornal e logo me deparei com uma notícia sobre aulas de dança gratuitas. Decidi que finalmente sairia do “dois pra lá, dois pra cá”. Só não imaginava que aprenderia muito mais do que dançar. O projeto, mantido pela prefeitura, era voltado aos adolescentes, mas a maior parte dos alunos era de jovens com mais de quarenta anos. Como havia muitas pessoas na fila de espera para a dança de salão, a organização decidiu criar duas turmas, dividindo por faixas de idade.

Colorful wind - Aulona Goxhaj. Fier, Albania
Eu optei por ficar na turma dos jovens mais experientes, pois o horário me permitia também participar das aulas de jazz. É claro que a diferença era nítida quanto à evolução dos passos, viradas e coreografias.

Mas era ali, junto àquelas pessoas, na maioria mulheres, que eu pude experimentar algumas das sensações mais gratificantes da dança. 


Como eu tinha facilidade em aprender os novos passos e também agilidade, por ser mais nova, acabava por fazer dois papéis: de condutora e de conduzida. Afinal, como não era de se estranhar, havia poucos homens.

Eu vivia as duas sensações dos movimentos. Aprendi que com elas deveria ter calma e não atropelar seus passos com meu ritmo acelerado. Adaptava-me a seus limites. De aula em aula, cada uma delas evoluía no seu tempo e compasso. E eu me sentia honrada em fazer parte daqueles momentos.

Durante as aulas de jazz, em que a turma era quase a mesma, elas se mostravam igualmente dedicadas. Eram mais de três horas ininterruptas de atividade, entre as duas modalidades, e elas mostravam uma energia tão intensa que pareciam garotas de 12 anos. Encantava-me a vontade e a alegria que elas tinham em estar ali, em aprender a coreografia, em remexer os corpos, em estarem reunidas.

É claro que não era sempre um mar de rosas. Havia cansaço, um pouco de dor, dificuldade em fazer braços e pernas coordenarem os movimentos que o cérebro os mandava executar. Mas os sorrisos e o brilho no olhar voltavam sempre.

Não havia o fardo de mostrarem-se umas melhores que as outras, de conquistar uma posição de sucesso ou qualquer status tolo que nós “jovens” queremos tanto, e pelo qual nos estressamos tanto. Elas eram o que sua força interior as dizia para serem. Buscavam a evolução a partir dos degraus que elas haviam alcançado, sem olhar para os lados ou para trás. Simplesmente dançavam suas vidas da melhor forma possível, com a leveza de quem é feliz apenas por estar em movimento, por sentir... e por compartilhar o espetáculo de suas vidas.

Por Míriam Bonora

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