sábado, 30 de abril de 2011

Era apenas um louco.

Ele me amou em menos de um minuto. Nunca fui amada por alguém de maneira tão rápida. Não sabia onde colocar os olhos depois que me disse: “te amo”. Não, eu não estava sendo assediada. Na fila do ônibus, um louco me abordou. As pessoas olhavam assustadas para ele. Ou melhor – pior, na verdade – as pessoas nem olhavam. Ele cutucou meu ombro. Depois de dizer algo que já não me recordo, perguntou se podia me pedir algo. Eu disse “depende”. “Ora por mim”. Foi o que ele pediu. Respondi “claro! Qual o seu nome?”. O louco marejou os olhos. Levantou as sobrancelhas, torceu os beiços em espanto... Então me amou. “Te amo”.

Foi o que ele disse. No momento seguinte, enquanto eu ainda procurava onde por o olhar, entendi. Ele cutucou a mulher à minha frente. Ela olhou e rapidamente abaixou a cabeça. Ele olhou para mim, olhou para ela, olhou para mim de novo. Naquele momento, não conseguia deixar de olhar para os olhos daquele homem quando ele me olhava. Estava admirado! Chamou a moça de novo. Ela sequer se mexeu. Voltou-se para mim. “Você vai orar?”. “Sim, todo mundo precisa de Deus, não é?”.

Aquele beiço levantou-se de novo. Ele não entendia. Nem minha atitude, nem a da moça à frente e penso que nem a dele, nem a de ninguém. Confesso que tive medo. Mas eu não poderia agir de outra forma. Encarei aquele louco. Admito que mais que qualquer coisa, o que me fez respondê-lo foi o fato de eu sentir que sou como ele. Eu também sou louca. Sei como ele se sente quando não é correspondido, quando não o deixam falar. Sei como é querer ser percebido, ouvido e, simplesmente, não ser. Sei como esse mundo atordoa. Só não estou na rua, mas sou louca. Meu ônibus chegou. Ele fez um sinal de jóia e me estendeu a mão. Estendi as minhas e o cumprimentei. 

Percebi alguns olhares de “o que ela está fazendo, meu Deus?!”. Era a mão de um louco! Suja, quem sabe com alguma doença... Não me importei com o que estavam pensando. Tocar aquela mão foi a decisão mais certa que tomei. Lavar as minhas, depois, é que foi difícil. Era o que eu mais deveria e ao mesmo tempo o que eu menos queria fazer. Na minha cabeça, não havia tocado na mão de um louco... Toquei nas mãos do homem que me amou sem sequer saber meu nome! Saí dali inconformada: eu também fiquei sem saber o nome dele. Embarquei no ônibus. Orei.

Esse blog veio na hora certa. Não queria sair por aí falando dessa história porque pareceria propaganda de mim mesma. Mas também não queria me esquecer daqueles três minutos de convivência. Foram três minutos desses assim: para guardar num potinho. Poderiam ser menorizados, afinal, era apenas um louco. Mas quer gente mais sábia que os loucos? Eles sabem, como ninguém, que tudo o que esse mundo precisa é de amor. De amor! Daquele que uma oração pode demonstrar. Daquele que dá sem esperar receber... Daquele que se declara sem medo nem pudor. Muito mais que eu a ele, o louco me deu amor naquela tarde.

Isabella
29 de abril de 2011

2 comentários:

  1. Obrigada pela bela colaboração Isa!
    Que seja apenas a primeira!

    Me emocionei ao ler seu relato...suas percepções.

    Sejamos então mais loucos! Estamos precisando. De mais amor, de mais cuidado com os que estão aqui, junto de nós, nessa grande caminhada da vida.

    Que os bons sentimentos, a amizade e as ricas trocas humanas sejam mais importantes e nos preencham!

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  2. Uauu...incrível. Como as coisas são. Pra que jogar The Sims se a vida é tão legal. Coisad que só acontecem aqui, no mundo real

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